O presidente Vladimir Putin estabeleceu uma "linha vermelha" para os EUA e seus aliados, alertando que a Rússia considerará o uso de armas nucleares se a Ucrânia atacar seu território com mísseis ocidentais de longo alcance. Isso levantou dúvidas no Ocidente sobre a seriedade de suas ameaças. Se Putin estiver blefando, o Ocidente pode intensificar seu apoio à Ucrânia, mas se estiver falando a sério, o risco de um conflito se transformar em uma Terceira Guerra Mundial aumenta.
Recentemente, Putin ampliou os cenários que poderiam justificar o uso nuclear, incluindo ataques convencionais significativos por aeronaves, mísseis ou drones, e o apoio de potências nucleares a esses ataques. Essas condições se aplicam à possibilidade de a Ucrânia, com mísseis ocidentais, atacar o território russo, o que Putin considera um ato que poderia envolver suporte ocidental. Nikolai Sokov, ex-diplomata, destacou que a mensagem de Putin é clara: qualquer erro nesse contexto poderia levar à guerra nuclear.
Bahram Ghiassee, analista nuclear, relacionou as declarações de Putin ao lobby da Ucrânia por mísseis de longo alcance, especialmente com a visita do presidente Zelenskiy aos EUA. Ele interpretou a mensagem de Putin como um aviso para que o Ocidente pare imediatamente com essa busca.
A reação de Kyiv foi rápida, com o chefe de gabinete de Zelenskiy acusando Putin de "chantagem nuclear". Anton Gerashchenko, ex-assessor do ministro das Relações Internas da Ucrânia, considerou as ameaças um blefe que revela a fraqueza de Putin, enquanto o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, chamou a declaração de irresponsável.
Analistas, como Andreas Umland, argumentaram que as ameaças de Putin são uma estratégia de PR destinada a intimidar os apoiadores da Ucrânia. Fabian Hoffmann, especialista em defesa, destacou que, embora os comentários não possam ser ignorados, não há uma ameaça iminente de uso nuclear. Ele sugeriu que os preparativos reais seriam visíveis e detectáveis pelas agências de inteligência. Mark Galeotti também enfatizou que, embora as declarações tenham impacto político, falta evidência de uma disposição real para o uso de armas nucleares.
LIMIAR REDUZIDO
Putin foi mais específico sobre as circunstâncias que poderiam levar ao uso nuclear, com seu porta-voz afirmando que seus comentários visavam sinalizar sérias consequências para os países ocidentais que atacassem a Rússia. No entanto, as mudanças anunciadas não atenderam às demandas de alguns comentaristas belicistas, como Sergei Karaganov, que defendeu um ataque nuclear limitado na Europa.
As mudanças ampliam o alcance da dissuasão nuclear russa para incluir a Bielorrússia e reduzem o limiar para o uso nuclear, indicando que isso poderia ocorrer em resposta a ataques convencionais que ameaçassem a soberania da Rússia. Anteriormente, a doutrina nuclear se referia apenas a ameaças à "própria existência do Estado".
Putin anunciou mudanças na doutrina nuclear da Rússia em um vídeo dirigido a um conselho de segurança, enfatizando que o uso de armas nucleares é uma medida extrema, mas abordada com responsabilidade. Enquanto ministros e chefes de inteligência prestavam atenção, a verdadeira audiência eram Kyiv, Washington e Londres.
Consultores políticos russos, como Yevgeny Minchenko, interpretaram a mensagem como um aviso direto à Ucrânia e ao Ocidente para não escalarem a guerra, afirmando que, se atacados por intermediários, a Rússia retaliaria contra eles. Sergei Markov, ex-conselheiro do Kremlin, indicou que as mudanças tornam mais fácil o uso de armas nucleares táticas, especialmente em cenários envolvendo a Ucrânia, se houver ataques a partir de bases na Romênia ou Polônia, apoiados por forças ocidentais. Ele sugeriu que a Rússia poderia usar essas armas táticas como resposta a provocações.
'SEM RESPEITO'
Igor Korotchenko, analista militar, afirmou que mudanças na postura nuclear da Rússia eram necessárias devido à indiferença do Ocidente a sinais de alerta, como exercícios que simulavam o uso de armas nucleares. Ele observou que os adversários ocidentais não respeitam mais as "linhas vermelhas", acreditando que suas ações na Ucrânia não teriam consequências nucleares.
Vladimir Avatkov, conselheiro de Putin, destacou que essas mudanças na doutrina permitiram que Moscou antecipasse decisões ocidentais sobre mísseis para a Ucrânia, buscando reverter o sentimento de segurança do Ocidente. As alterações foram bem-recebidas por nacionalistas e blogueiros de guerra que defendem o uso de armas nucleares para forçar a capitulação da Ucrânia.
Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança, advertiu que as declarações de Putin deveriam fazer Ucrânia e Ocidente reconsiderarem suas ações, sugerindo que a nova postura nuclear poderia fazer seus opositores refletirem sobre a autopreservação.
'COMO CRIANÇAS PEQUENAS'
Sokov, ex-diplomata russo, expressou frustração em Moscou com a falta de atenção do Ocidente aos avisos nucleares da Rússia. Ele mencionou que, após exercícios simulando lançamentos de mísseis nucleares, houve reclamações sobre a indiferença ocidental. Sokov comparou a situação a tratar o Ocidente como "crianças pequenas", que precisam de explicações detalhadas. Ele também alertou sobre a "conversa solta" de políticos que acreditam que o Ocidente já cruzou várias linhas vermelhas da Rússia, como o envio de armamentos à Ucrânia. No entanto, ele ressaltou que duas linhas vermelhas essenciais ainda não foram cruzadas: o envio de tropas da OTAN e o uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia. Sokov manifestou preocupação com a falta de consideração dos riscos e as possíveis consequências imprevistas.
Por Mark Trevelyan e Andrew Osborn
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